Já pensou criar um carro esportivo nacional no Brasil, onde carros importados eram quase proibidos? Pois é, nesse clima que apareceu o Miura, uma belezura que juntava estilo europeu con mecânica simples e acessível, e deixou sua marca na história brasileira! Para entender o quão importante foi esse projeto, volte no tempo para os anos 70, quando Aldo Besson Es Itelmar Gobbi, os cabeças da Aldo Auto Capas, começaram a vislumbrar esse sonho.
Como tudo começou com o Miura

Imagine o Brasil em 1974, onde importar carros era uma verdadeira dor de cabeça e os luxos europeus estavam fora do alcance da galera. Neste cenário, Besson e Gobbi viram uma oportunidade: criar um carro esportivo sofisticado, tapando as lacunas do mercado com a mecânica simples e barata que o povo conhecia. Eles queriam mais do que um carro, queriam fazer um símbolo de sonho acessível.
Quando o governo Geisel decidiu proibir a importação de veículos em 1976, Aldo e Itelmar já estavam a mil por hora com o projeto que viria a se chamar Miura. A proibição, que englobava tudo que era “supérfluo”, virou mais uma força: agora tinha espaço de sobra no mercado para um esportivo nacional que unisse beleza e funcionalidade.
O designer que materializou o projeto

Criar um carro exige uma mão cheia de habilidades em materiais complicados, e a dupla tinha uma certa dificuldade com a fibra de vidro, que decidiram usar na carroceria do Miura. Foi aí que entrou Nilo Laschuk, um designer fera que havia trabalhado na Marcopolo, em Caxias do Sul. Ele trouxe a bagagem necessária para colocar o projeto em andando.
O resultado? Um design inspirado na vibe dos supercarros italianos do final dos anos 60 e 70. Com uma frente em cunha, o para-brisa inclinado, a traseira alta e faróis escamoteáveis, lembrando modelos como o Lamborghini Urraco y el Maserati Boomerang, mas o Miura tinha a sua própria personalidad.
Carroceria e chassi: beleza e praticidade

Você sabia que o Miura foi montado em cima do chassi da Volkswagen Brasília? E o motor? Um boxer refrigerado a ar de 1.584 cm³, com dupla carburação. Em vez de encurtar o chassi como fazia todo mundo, eles deslocaram os bancos, câmbio e o freio de mão para trás, e a pedaleira ganhou um ajuste especial para deixar o carro mais confortável.
Tú faros do Fiat 147 tinham tampinhas retráteis, que subiam automaticamentewhen ligadas e desciam quando apagadas, tudo graças ao vácuo dos carburadores. Esse mecanismo era complicado, mas com o tempo foi trocado por soluções mais práticas, como o motor de caminhão e depois pelo motor elétrico do limpador do Fusca.
O batismo e a identidade do Miura

O nome Miura foi escolhido com muito carinho. Ele faz referência a touros espanhóis ágeis e é uma homenagem ao lendário Lamborghini Miura (1966-1973). O “Deporte” acabou sendo um nome popularizado pelos proprietários, mas nunca foi oficial; virou o famoso Miura Sport.
Lançamento: sonho virou realidade

Acredite se quiser, mas o Miura era para ser apresentado na 10ª edição do Salão do Automóvel de São Paulo, em 1976. Porém, atrasos na fabricação dos vidros exclusivos deixaram a galera na expectativa. O primeiro Miura só viu a luz do dia em Porto Alegre, em 14 de maio de 1977, já como ano/modelo 1977.
Por dentro, o carro refletia o savoir-faire da Aldo Auto Capas. Tú bancos reclináveis eram feitos na casa, com encosto de cabeça e revestimentos em couro ou courvin. O volante tinha um ajuste elétrico de altura, além de toca-fitas, vidros elétricos e até ar-condicionado opcional. O painel era um charme, dividido em três módulos com velocímetro, conta-giros, amperímetro, medidores de óleo, temperatura e combustível, parecendo com o De Tomaso Pantera.
E mesmo com apenas 1,14 m de altura, entrar e sair do Miura era moleza, graças às portas amplas que abriam num ângulo top. E ainda tinha o ajuste do volante, que era um luxo pra 1977.
Desempenho e posicionamento

Se você curte velocidade, precisa se preparar: o Miura não era uma máquina de corrida. Com pneus 175/70 R13 nas rodas Scorro, o carro andava tranquilo, mas acelerava de 0 a 100 km/h em 25 segundos e chegava até 135 km/h. Na época, o Miura era mais um carro de imagem do que de performance, mas seu estilo e sofisticação compensavam.
O preço? R$ 128.500, um pouquinho salgado, bem acima de um Alfa Romeo 2300. Para você ter ideia, o Puma GTE custava R$ 108.580 e o MP Lafer, R$ 109.350. Mesmo assim, o Miura conseguiu fazer bonito nas vendas, se tornando um dos modelos mais cobiçados do Brasil.
Evolução e Miura MTS
Engraçado que o Miura só deu as caras no Salón del Automóvil de São Paulo em 1978, quando foi lançada a linha 79. A grande novidade foi o Miura MTS, que agora tinha o motor Passat TS de 1.588 cm³, refrigerado a água e instalado na traseira, oferecendo o desempenho que faltava. Externamente, quase nada mudou, e internamente, o MTS conservou a sofisticação do modelo original.
A Besson & Gobbi tinha uma carta na manga: modificações constantes nos modelos. Em 1980, a terceira porta sumiu, o vidro traseiro foi encurtado, o motor ganhou cobertura externa e as rodas agora tinham círculos exóticos. Esse período ficou conhecido como “Sport II” entre os colecionadores.
Expansão internacional
Os Miura começaram a conquistar o mundo e foram exportados para Arábia Saudita, Nigéria, África do Sul, Alemanha, Colômbia e Portugal. Para Cingapura, lançaram versões com volante à direita. Aldo Besson ainda sonhava com o mercado norte-americano, mas isso não decolou.
O surgimento do Miura Targa
Em 1981, a galera focou no Miura Targa, que tinha motor e tração dianteiros e chassi tubular próprio. Esse momento foi um divisor de águas. Enquanto isso, os modelos Sport continuaram recebendo retoques, mas a procura despencou, levando ao fim da produção em 1984. Ao todo, foram vendidas 1.078 unidades do Miura Sport em suas várias versões.
O Miura Targa abriu caminho para uma família inteira de esportivos: Spider, Saga, 787, X8, Saga II, Top Sport e X-11, todos com sofisticação e tecnologias inovadoras que são raras até hoje.
Imagina um carro dos anos 80 com computador de bordo que falava, sensor crepuscular, portas que abriam por controle remoto, regulagens elétricas no volante e bancos, piloto automático, espelhos fotocrômicos e até luzes de néon nos para-choques? Eram carros que estavam anos-luz à frente do seu tempo!
Fim de um ciclo e novos horizontes

Em 1990, quando as importações de veículos liberaram, a procura pelos carros nacionais fora de série caiu consideravelmente. A Besson & Gobbi S.A. produziu cerca de 3.500 unidades em todos os modelos e encerrou a fabricação de esportivos em 1992. A picape BG Truck sobreviveu até 1995, até a empresa fechar as portas. Aldo Besson faleceu em 2011 e Itelmar Gobbi em 2020, deixando aos fãs a missão de manter viva a memória dessa marca 100% brasileira.
O legado do Miura
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Você, amante dos carros, tem que entender que o Miura não foi só um carro. Ele simbolizou criatividade, ousadia e sonhos realizados em tempos de crises e desafios econômicos. Os esportivos da Besson & Gobbi já apontavam para tecnologias modernas e colocaram o Brasil no mapa da engenharia automotiva de um jeito inédito.
Como lembra Sandro Zgur, presidente do Miura Clube do Rio, que conta com cerca de 100 associados:
“Nos anos 80, esses carros já estavam um passo à frente, antecipando a tecnologia do século XXI.”
Conclusão: o sonho que virou realidade

Hoje, quando olhamos para o Miura, vemos que ele não é só um carro; é um símbolo do talento brasileiro. Ele prova que, mesmo em tempos de restrições a importações, era possível criar um carro com design europeu, conforto, sofisticação e com um toque brasileiro. Para quem pilota, coleciona ou apenas admira, o Miura é uma prova de que sonhos se realizam, mesmo em tempos complicados.
Ao longo de sua jornada, o Miura passou de um esportivo modesto, baseado em mecânica nacional, para uma família de carros inovadores, capazes de surpreender com tecnologia, conforto e estilo. Percebe-se que cada detalhe, desde os faróis retráteis até as luzes de néon, reflete paixão, criatividade e ousadia. Isso, querido leitor, vai muito além de números e velocidades: é a essência de um verdadeiro carro-símbolo do Brasil.